domingo, outubro 05, 2008

não podemos viver na ambiguidade

O país que somos, parece viver sob a lógica da contradição. Ou sob o síndroma da contradição. Talvez nem seja o país. Não o é. Com toda a certeza. Será apenas uma parte do país. Uma parte pequena. Talvez ínfima. Digamos que a elite. Mas, muito provavelmente, nem ela. Nem toda ela. Que seja, então, apenas uma parte dela. E, uma parte da parte que lê e escreve para jornais. Que se pode fazer ouvir nos audiovisuais. O que leva a ter de colocar a questão se. E, se, como. Ou seja, se essa minoria, se esses tantos poucos, possui capacidade para exercer influência, para influenciar os outros. Para influir na maneira de pensar dos outros. Não só na maneira de pensar. Também na maneira de agir e de se comportarem. Trata-se de um exercício difícil de resolver. De solucionar. O que não significa que não possa ser resolvido. Ou que não tenha solução. Em teoria, nada é impossível. Em teoria não há impossíveis. Da mesma forma que havemos de reconhecer que quanto sabemos e conhecemos, resulta de descobertas. Não de invenções. De descobertas do existente e, até então, por descobrir. Amanhã, depois, poderá ser diferente. Até ao presente, até ontem, foi assim. Foi convencionado que devia ser assim.

Temos o raro condão, talvez o mérito de desejar, de pedir, hoje, o que recusamos amanhã. Possa até nem ser mérito. Possa ser demérito. Hoje, clamamos pelo combate à corrupção. Dizemos que queremos saber quem se apropriou de bens alheios. De bens e de dinheiro do Estado. Em proveito próprio. Amanhã, quando nos apresentam nomes, dizemos não. E, se facto são esses os supostos, deixem-nos em liberdade. Parece ser o que está a acontecer. Parece ser o que se está a passar perante a detenção de uma dezena de funcionários do Estado. Não de um estado qualquer. Do nosso Estado. Que parece estar a provocar alguma intranquilidade. Algum receio, algum medo. Não questionamos. Parece que se perdeu a capacidade de raciocínio. Ninguém pergunta, ainda ninguém perguntou, quantos postos de saúde ou quantas salas de aulas podiam ter sido construídos com o dinheiro desviado. Quantas motas e quantos carros, quantos sistemas de comunicações ou quantos pares de fardamento poderiam ter sido adquiridos com o dinheiro desviado. Até prova em contrário, parece ter havido desvio de dinheiro do Ministério do Interior. Quem desviou ou quem não desviou, é outra questão. De concreto, sem possibilidade para desmentido, é ter havido desvio de fundos do Estado. Perante esta realidade, coloca-se uma segunda. Que é a de não se acreditar na Justiça quando não tenta fazer Justiça. E de não se acreditar na Justiça quando tenta fazer Justiça. Estamos, sem dúvida, perante uma contradição. Que não é aparente e pode ser resultante de conflitos de interesses. Ou de acções programadas de desinformação. O que parece claro e concreto, é que não podemos viver na ambiguidade.