domingo, abril 05, 2009

milícias fascistas privadas

Estamos perante novas surpresas. Surpresas pela negativa. Diga-se. Ou, pode ser que não. Pode ser que se trate, apenas, de uma repetição de habituais diatribes. Como pode não. Ora, o que aconteceu foi que logo após a validação e a proclamação dos resultados das eleições em Nacala-Porto, os vencidos vieram a público dizer que não estavam de acordo. E que, pelo facto de não estarem de acordo com o decidido pelo Conselho Constitucional, não entregavam o Município aos vencedores. Para além desta afirmação, desta recusa, há outros factos que são não de menos preocupação. Um, é o da possível existência de 300 homens armados da RENAMO na província de Nampula. Ao que foi divulgado, orientados no sentido de se confrontarem com as forças legais. Com as forças do Governo legal. Outro, divulgado anteriormente, é o de o presidente da referida formação política ter dito pretender fixar residência em Nampula. Estes factos, estes posicionamentos públicos, não podem deixar de causar alguma preocupação. No mínimo, devem merecer alguma atenção. Não devem ser banalizados. Sendo necessário dizer, desde já, que quem está a aconselhar neste sentido, neste tipo de atitudes e de comportamentos está a aconselhar mal. Está a aconselhar errado. Mais grave, está a aconselhar no sentido contrário aos interesses nacionais. Poderá, inclusive, estar a aconselhar no sentido da traição.


Desejamos, queremos e temos o direito de ter umas Forças Armadas coesas. Eficientes e eficazes. O Estado uno e soberanos também passa por aí. A confirmar-se a existência de 300 homens armados na província de Nampula, podemos estar perante uma afronta ao Estado que somos. Uma afronta ao Exército que tem o dever de nos defender. A ser verdadeira a existência deste numeroso grupo de homens armados, em Nampula, a questão parece bem mais complexa do que simples caso de polícia. E é. Porque, factor a não perder de vista, é o de o presidente da RENAMO já ter manifestado, publicamente, a intenção de passar a residir em Nampula. Se concretizar esta sua intenção, se estes homens armados com armas de guerra existirem, estaremos perante um novo facto. Que é o da existência de uma milícia privada comandada pelo dirigente do maior partido da oposição. E que, como tal ou por inerência, tem assento no Conselho de Estado. Muito embora, deva dizer-se, em abono da verdade, raras serem as vezes em que assume postura de Estado. De resto, milícias privadas não são novidade em Moçambique. Existiram no tempo colonial. Estavam sediadas no Dondo e eram comandadas por Jorge Jardim. Acólito de Salazar. Mas, Salazar morreu na sequência da queda de uma cadeira de existência duvidosa. Nos finais dos anos 60. Jorge Jardim, quando já não tinha lugar para dormir descansado em terras de Portugal, migrou para o Gabão. Na companhia de uma antiga misse Moçambique. Onde se finou. Passado que é cerca de meio século sobre o desaparecimento físico de Salazar, parece que estamos a ser confrontados com a sua herança. A herança de milícias fascistas privadas.