domingo, agosto 26, 2012

Sabemos nada e coisa nenhuma

Temos assistido nas últimas semanas, nos últimos tempos, temos lido e visto uma vasta e ampla campanha a favor da construção da ponte que irá ligar Maputo e a Catembe. Ele são artigos de jornal, reportagens, entrevistas, comentário. Em tudo quanto seja meio de comunicação social que se preste a este método de propaganda. Para não dizer de publicidade encoberta. Muito por hipótese mal encoberta. Em que cada um, cada interveniente, defende a sua dama. À sua maneira. E, em alguns casos, de forma canhestra. Mas, ainda bem que assim é, ainda bem que há muito quem defende a sua dama. Isto quer dizer que ela, a dama, melhor dizendo a ponte, não virá a ser criança enjeitada, mal querida, indesejada. Pelo que se pode ver, ler e ouvir, até agora, ela, a ponte, é bem-vinda. Até, mesmo, querida. Pelo menos para alguns. Para os seus defensores e os seus propagandistas. De resto, outra coisa nem seria de esperar. Estes, entre outras coisas, também são pagos para isso. Para fazerem publicamente a defesa da sua dama. Naturalmente, como é público e conhecido, este negócio da construção da ponte entre Maputo e a Catembe é um negócio de muitos milhões de dólares norte-americanos. Sabe-se isto. Como se sabem muitos aspectos técnicos. De resto, pouco mais. O que se sabe, o que se vai sabendo, é divulgado a conta-gotas. Uma gota hoje, outra amanhã, outra depois. Por exemplo, agora já se sabe que os peões não terão possibilidade de circular pela ponte. Pode ser uma medida certa, acertada. De acordo com normas internacionais. Depois, se o povo não tem carro, se até anda a pé, que continue a andar a pé. Mas, por outros caminhos. Para não poluir a ponte. Para não sujar a ponte com os seus pés sujos de matope. É muito provável que com o andar do tempo muitos outros aspectos venham a público. Venham a ser tornados públicos. Para poderem vir a ser debatidos publicamente. O projecto de construção da ponte entre Maputo e a Catembe é mais do que projecto e obra de meia dúzia de engenheiros e de gestores. É mais do se simples iniciativa do Conselho Municipal da Cidade de Maputo. A partir de então ou depois disso, poderá ficar como um marco histórico na ligação rodoviária entre o Rovuma e o Maputo. Como o elo final de uma ligação histórica. E sempre cantada. Para trás, e enquanto muita água corre para o mar sem ser por debaixo da ponte, parece obrigatório colocar a questão da valorização dos terrenos urbanos na margem sul. De quanto valiam ontem e de quanto valem hoje. O mesmo é dizer, a quem beneficia directamente, em termos económicos, a construção da ponte. Neste imediato. Muito provavelmente, a construção da ponte, poderá não ser um elefante branco. Mas, também por hipótese, poderá estar a transformar-se num elefante verde. Num elefante das chamadas verdinhas. Poderemos, muito bem, vir a assistir a muita negociata por detrás do negócio. De terrenos. É necessário ser-se mais claro sobre a matéria. Quanto a propaganda, já temos a suficiente. Já temos quanto baste. É por isso que sabemos nada e coisa nenhuma.