domingo, agosto 05, 2012

Seguir a política da avestruz

Estão a tornar-se frequentes e repetidos, repetitivos, os conflitos laborais na Empresa Municipal de Transporte Rodoviário de Maputo (EMTPM, EP). De novo e mis uma vez, trabalhadores e conselho de administração não se estão a entender sobre questões salariais. Sobre as percentagens dos aumentos salariais dos trabalhadores. Trata-se um conflito, de uma falta de entendimento, aparentemente, sem razão de ser. Sem razão para ser o que está a ser. Sem lógica. E que arrasta em negociações inclusivas de 25 de Maio passado. De quanto se diz e escreve, o pomo da discórdia parece claro. Segundo o jornal “Notícias” (edição da passada quinta-feira, página 1), A intenção do Conselho de Administração choca com a proposta do Comité Sindical e dos trabalhadores de ver de ver os salários ajustados em 16 por cento, menos 1.13 por cento dos 17.13 por cento instituídos pelo Governo para o chamado “Grupo 7”, do qual fazem parte estes trabalhadores. Salvo melhor interpretação ou leitura diferente, o Governo decretou uma determinada percentagem de aumento salarial para este tipo de trabalhadores. Por motivos que só eles podem explicar, aceitaram um aumento menor do que aquele que foi imposto pelo Governo. Mesmo assim, a sua entidade patronal recusa pagar, recusa o aumento salarial. Anda a gastar tempo. Anda a queimar tempo. E dinheiro dos nossos impostos. Um exemplo acabado de imbecilidade. De má gestão. De gestão ruinosa. Ou, pior, de desafio ao próprio Governo. É que, vista a questão por outro prisma, o conflito não é entre trabalhadores e entidade patronal. É entre gestores dos transportes públicos da cidade de Maputo e o Governo da República. O mesmo é dizer, o conflito, o motivo da discórdia ou da discordância, não está entre os trabalhadores dos extintos TPM e a sua entidade patronal. Situa-se mais acima. Está entre esta, entre os gestores dos extintos TPM, e o Conselho de Ministros. Ora, se discordam com a decisão governamental, parece que lhes resta uma e única decisão. Ou seja, pedirem a sua demissão colectiva. O que seria, convenhamos, um bom serviço à pátria. A empresa que sucedeu aos extintos TPM, parece apresentar algumas fragilidades. Desde o modelo da sua orgânica, da sua constituição aos seus métodos de funcionamento e de actuação. A começar nos métodos e nos processos de aquisição de novas viaturas, à sua gestão corrente, diária. O mesmo significa perguntar se terá sido criada de acordo com a nossa realidade. Com as realidades locais e à luz das experiências de outras capitais. Muito provavelmente, não. Questione-se, então, então sobre o tipo de empresa criada. E sobre o seu modelo de gestão. Podemos ir um pouco mais longe. E devemos ir. Será que uma empresa que gere os transportes rodoviários numa cidade como Maputo deve, ou pode ser, gerida com objectivos comerciais. Tendo em vista o lucro. Ou se, pelo contrário, deve ter e perseguir objectivos sociais. Ao que se sabe, segundo o que parece ser experiência comum de outras e muitas cidades - capitais, a exploração dos sistemas de transportes públicos urbanos não é rentável. Não é uma actividade lucrativa. Comercialmente. A solução dos transportes públicos urbanos nacionais já não permite o recurso e meros paliativos. As aspirinas, que podem eliminar a febre mas nunca a doença. Já se perdeu muito tempo. Demasiado tempo. E, o tempo passado não é recuperável. Mas ainda há tempo para realizar uma reflexão séria, honesta e realista sobre a matéria. Com o objectivo único e final de bem servir os utentes dos transportes públicos. Dos transportes colocados à sua disposição pelo Estado ou pelas autarquias, pelos municípios. E, que, no final estão a ser subsidiados com o dinheiro dos nossos impostos. A não de esta ou de outra forma semelhante, será enterrar a cabeça na areia para escamotear a realidade. Será seguir a política da avestruz.