domingo, setembro 30, 2012

Uma bofetada sem mão

Há notícias de factos, de decisões e de acontecimentos que nos surpreendem. Também e neste caso concreto, muito pela positiva. De facto, não é habitual vermos ou lermos notícia que um governante não combate o comércio informal. Mais e mais claro, que protege o comércio informal. Que conhece e compreende as suas origens, os seus motivos, as suas razões de ser. De existir. E que, por assim entender o fenómeno percebe, com lucidez, que o mesmo não pode ser resolvido à bastonada nem com cargas policiais. Logo, que age pela inversa. Do que é o agir governativo no que é definido pelo território da cidade de Maputo. Onde, de tempos em tempos vemos polícias municipais, assistimos a gentes da polícia municipal a “confiscarem” bens e artigos de vendedores informais. Muito e mais claramente a roubarem produtos e artigos expostos em locais que consideram impróprios para locais de venda. A indefesos e indefesas vendedores e vendedoras. Sem emitirem qualquer documento do apreendido. Sem permitem qualquer tipo de defesa por parte do acusado e espoliado. É este um campo, uma área, em que os governantes da capital do país precisam e muito de aprender. Junto de quem sabe mais e pensa melhor. Em última análise, pensa diferente. Em defesa dos interesses, dos direitos e das poucas opções de vida que restam aos governados. Às minorias silenciosas. Mas não silenciadas. As minorias, as populações, os povos não se deixam silenciar. Não são silenciáveis. São sempre corpos vivos e em movimento. Felizmente. É por isso que se sucedem convulsões sociais. E, também, revoluções. Olhem todos à vossa volta. E vejam. Os que tiverem capacidade e inteligência para ver. E perceber. Na sua edição do passado dia 25, o jornal “Notícias”, (página 4), titulava Governo de Inhambane a favor do comércio informal. E, logo a seguir, escrevia que O Governador de Inhambane, Agostinho Trinta, disse há dias que, no decurso da terceira sessão extraordinária da Assembleia Provincial, que o seu Executivo não tem plano de retirar os vendedores informais que desenvolvem a sua actividade nas ruas e outros lugares públicos por aquele ser um meio que garante a sobrevivência de milhares de moçambicanos. E esta, a questão da sobrevivência, parece ser e é, uma questão central. Não só em Inhambane como em muitos outros e diferentes pontos do Moçambique. Mas, disse mais o bom do homem, o bom do governante. Ele considerou que a venda de diversos produtos na via pública constitui uma conquista do povo moçambicano pois, segundo afirmou, antes da proclamação da proclamação independência nacional ninguém era admitido a tomar qualquer iniciativa de género para a sua sobrevivência. Para que não restem dúvidas sobre a sua concepção de comércio e de boa governação, de como governar pobres, de como governar em país de pobres, o governador de Inhambane terá dito que Negócio informal é a forma de produção de renda daquela gente e mandar sair daquele local, é tirar a liberdade de milhares de pessoas. Isso pode provocar outros problemas muito mais graves do que isto. Cá por mim, estou inteiramente de acordo. E entendo perfeitamente o seu pensamento. E a sua concepção de boa governação. De como governar. Com o povo e para o povo. Fosse eu, e felizmente o não sou, responsável por dirigir e governar a cidade de Maputo e atrevia-a me a fazer lhe um convite. Venha à capital do país para dar uma palestra sobre mercado informal e boa governação. Esta miudagem que diz ser os nossos dirigentes, bem precisa de saber como fazer. Para além de pontes e de estradas. Em nome de um tipo de progresso que parece passar ao lado da população. Para já fica aquilo a que se pode chamar de uma bofetada sem mão