segunda-feira, novembro 01, 2004

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de 24 de Outubro de 2004

antes e depois

Luís David

defender a dignidade nacional


Vivemos num tempo nem sempre fácil de entender. Nem sempre fácil de perceber. Num tempo em que temos dificuldades em nos situar. Temos dificuldades, tremendas e terríveis, em perceber o mundo em que vivemos. Hoje, criticamos a globalização. Amanhã, estaremos a criticar o liberalismo económico. Depois, criticamos um e outro. Em absoluto. A seguir, haveremos de nos sentir satisfeitos, realizados, mesmo vaidosos, quando nos revelam números sobre crescimento económico. Sobre sucessos. Mas, esta é, simplesmente vaidade de pobre. Vaidade de cidadão de país da periferia da periferia. Que pouco ou nada manda em tudo quanto é sua pertença. E que, como vaidoso que é, gosta de ser elogiado. Gosta que lhe digam que tudo está bem, que tudo está bem. Que tem dificuldades, muitas, em destrinçar entre o desejo de uns e a realidade de outros. Que não consegue distinguir o elogio merecido do elogio bacoco. Que não se apercebe, muitas das vezes que, afinal o rei vai nu. E que na hora derradeira, na hora da verdade, curva-se de forma humilhante. A ponto de correr o risco de partir a espinha dorsal.



Estamos, cada dia que passa, a ficar mais esquecidos. Estamos, assim o parece, cada dia que passa, a perder memória individual e memória colectiva. Podemos estar a perder dignidade. A caminhar para a indignidade. E, é a perda de dignidade, a indignidade, a falta de sentido nacional, que conduzem à perda de soberania. Nunca o inverso. Hoje, chamamos por nomes menos bonitos, atribuímos adjectivos injustificados a quem no plano ético e moral, a quem no plano da defesa da dignidade e das competências nacionais, sabe afirmar-se moçambicano. E, pior e mais grave, transformamos a defesa desses valores numa atitude de incompetência profissional, por parte de quem tem opinião contrária. Tenhamos suficiente clareza de espírito de justiça para entender o que parece fácil de entender. É que quando o Presidente da República recomenda ou instrui num determinado sentido, está apenas a dizer ou fazer isso mesmo. Não está a dizer ou fazer o contrário, como parece que alguns pretendem. Não está a dizer que quem pensa de maneira diferente ou contrária é incompetente. O que está a dizer é que pode haver alternativas. Que pode haver uma forma diferente para conseguir o mesmo objectivo. E, sem muitas dúvidas, aqui, o objectivo é defender a dignidade nacional.