terça-feira, novembro 23, 2004

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de 21 de Novembro, 2004

antes e depois

Luís David


uma questão de Estado

A campanha eleitoral para as próximas eleições terá entrado, segundo os mais entendidos na matéria, naquilo a que chamam de recta final. Aceito que sim. E, aceito que sim pelo simples facto de que em qualquer percurso há sempre uma recta final. Mesmo quando aquilo a que se possa chamar de recta final tenha pouca a ver com recta e com final. E, isto, porque, no meu entender em política não há rectas nem final. Haverá, isso sim, curvas, muitas curvas, e objectivos. Sendo que o objectivo único e final é o da conquista do poder. E, conquistar o poder, começa por saber conquistar o eleitorado, quem tem a possibilidade ou o poder de votar. Para tanto, para conquistar o eleitorado, necessário é prometer. Prometer tudo e mais alguma coisa. Prometer o que pode ser realizado, como prometer utopias. Como prometer o que não tem qualquer possibilidade de ser realizado. E, no contexto nacional moçambicano do momento, prometer emprego para todos é mais do que utopia. É uma mentira. É enganar o eleitorado. Pelo simples facto de que, a nível mundial, o emprego é cada dia um bem mais raro. Pelo simples facto de que, a nível mundial, quem tem emprego luta por conservá-lo. Quem o não tem, poucas são as possibilidades de vir a tê-lo. Hoje, o que se oferece, o que está disponível é trabalho. E trabalho não é, nem de longe nem de perto, o mesmo que emprego. Que o digam, que o confirmem ou o desmintam os parceiros sociais moçambicanos empenhados na revisão da Lei do Trabalho.


Pelo que nos é dado ler em jornais e ver em televisões de todo o mundo, em tempo de eleições tornou-se hábito que esposas de candidatos presidenciais façam campanha ao lado de seus maridos. Acontece assim na Europa, vimos que assim foi, muito recentemente, nos Estados Unidos da América. Onde, onde, repita-se, a esposa de um dos candidatos, que viria a ser o candidato perdedor, se afirmava, por o ser, de origem portuguesa e nascida em Moçambique. Creio eu que nos deu alguma satisfação ver esta mulher a defender os ideais do seu marido, ver esta mulher ao lado do seu marido e ver esta mulher a afirmar, em quantas línguas domina, defender um projecto comum e nacional. Nacionalista. Nós por cá, pensamos diferente. Pensamos que é bom viram europeus e americanos fiscalizar as eleições. Mas pensamos que é mau, estamos agora a saber que é mau quando os candidatos, quando um candidato, leva a sua mulher para campanha eleitoral. Quando um dos candidatos procura mostrar ao eleitorado que tem família, que tem uma família que o apoia num projecto de governação. Como fazem europeus e americanos. Mas, se outros candidatos às presidenciais moçambicanas não tem mulher ou, podendo ter mulher, não a querem expor ao eleitorado, não a querem mostrar, o erro, se nisso há erro, não está em quem mostrou na companhia de quem pretende governar. Está em quem não soube ou não pode mostrar na companhia de quem pretende governar. Até ao momento, apenas conhecemos a mulher de um dos candidatos à presidência da República. Se os outros não tem mulher ou se têm muitas, permanece como incógnita. Embora sendo, como todos o sabemos, uma questão de Estado.