terça-feira, novembro 30, 2004

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de 28 de Novembro, 2004

antes e depois

Luís David

É coisa diferente


Estamos a poucas horas do fim da campanha eleitoral para as eleições presidenciais e legislativas de Dezembro próximo. O muito ou o pouco que aqui possa dizer-se, em nada poderá influir sobre o voto do potencial eleitor. Contudo, parece não ser de menor importância fazer uma breve reflexão sobre a pressão e as acusações feitas, por partidos da oposição, a alguns órgãos de Informação nacionais por não fazerem uma cobertura das suas actividades. Mesmo quando, e este parece ser aspecto fundamental, recusaram informar a que horas e onde iriam ser desenvolvidas dessas suas actividades de campanha. Aparentemente, este tipo de estratégia foi mal escolhido. Mas, antes de passarmos adiante, importa recordar que, passam já muitos anos, um correspondente estrangeiro disse ter visto, e por isso terá divulgado o que disse ter visto, aviões a sobrevoarem Maputo. Convidado a justificar a veracidade da notícia pelo então Ministro da Informação, não terá sido convincente. Por esse motivo, por divulgar uma mentira, foi expulso de Moçambique. Mais recentemente, no final das últimas eleições, outro jornalista, também estrangeiro, igualmente português, divulgou para o mundo que a RENAMO e o seu presidente haviam ganho as eleições. Feitas as contas, não era bem assim. Tratava-se de mais uma mentira. Mas, de uma mentira não inocente. De uma mentira paga, de uma mentira bem paga, de uma mentira paga a peso de ouro. Em última análise, de uma tentativa para desestabilizar e para desacreditar o processo eleitoral. Na sua totalidade.


Na presente campanha eleitoral, o principal partido da oposição, terá adoptado, inicialmente, uma estratégia diferente. A tónica deixou de ser colocada na fraude eleitoral e desviou-se para o trabalho, para a forma de actuação dos órgãos de Informação, especialmente os do serviço público. Quer-se dizer, e esta foi a mensagem que foi tentado passar, se o referido partido e o seu candidato perderem, a responsabilidade será, toda ela, de quem não cobriu, ampliou ou divulgou a sua mensagem. Em termos simples e lineares, o “bode expiatório”, em caso de derrota, deixou de ser o STAE e CNE para passar a ser a Informação. Uma certa informação. Muito claramente a de prestação do serviço público Mais precisamente a TVM. Mas, e há sempre um mas, como a mentira, por tão rasteira, não ter ganhado raízes, necessário era trepar. Trepar às arvores. Trepar à copa das árvores. E, lá do alto, lá de cima, gritar bem alto que há por aí quem pretende assassinar Dhlakama. Que o presidente da RENAMO é um alvo a abater pela segurança do Estado. E, foi assim, nestes termos, mais ponto menos vírgula, que Lusa e RTPÁfrica se fizeram eco dessa declaração. Sem investigarem. Sem procederem a qualquer investigação. Sem confrontarem a informação com nenhuma outra fonte. Dizem, alguns, menos avisados, que estes são jornalismos e jornalistas de referência. Creio mais no inverso. Creio que estes jornalistas, por nunca o terem sido, por nunca terem sido jornalistas, são tudo menos jornalistas. Sobretudo porque ser jornalista em Moçambique, hoje, não pode passar pelos critérios do jornalismo neo-colonialista. O jornalismo moçambicano é outra coisa. É coisa diferente.