domingo, novembro 14, 2004

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de 14 de Novembro, 2004

antes e depois

Luís David

a todos uma boa viagem


A adesão de Moçambique ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional terá sido decidida após amplas e profundas discussões internas. E, uma vez decidido que sim, decidido que Moçambique deveria passar a ser membro do BM e do FMI, uma segunda questão se colocava. Esta, era do modelo a seguir, o modelo a adoptar. Como sempre acontece nestas situações, confrontaram-se duas posições. A dos que defendiam uma transformação lenta e progressiva da economia nacional e a dos que defendiam aquilo a que habitualmente se classifica como “tratamento de choque”. Terá saído triunfante a posição destes últimos. Cujos mais acérrimos defensores, pouco tempo depois, estavam colocados em postos de relevo de diferentes organismos internacionais. Onde permanecem. Com deslocações poucas, ou nenhumas, a Moçambique. Entretanto, ou posteriormente, começam as negociações no Clube de Paris. Recordamos todos, os que não temos memórias curtas, que, inicialmente, nos era concedido muito menos que pedíamos, do que considerávamos necessário para os nossos programas. Para a nossa sobrevivência. Depois, com o avançar do tempo, a situação foi-se alterando. O montante concedido passou a ser muito semelhante ao montante solicitado. Por fim, aconteceu, aconteceu já, o montante concedido foi superior ao pedido. O que pode ter dois significados. Um, é o de que merecemos todo o crédito de instituições internacionais por sabermos aplicar correctamente os fundos que nos são atribuídos. Outro, é o de quem concedeu dinheiro e dinheiro não solicitado se sentir no direito de dizer e de impor o que devemos fazer. Se é ou não uma forma moderna de neocolonialismo, deixo correr o tempo para ver.


Na crónica que assina no semanário “Savana”, Machado da Graça dedica-me esta sexta-feira algumas linhas. E, pergunta-me, sobre o que escrevi neste espaço, domingo passado, quem pagará as próximas eleições, se a EU não voltar. Devo dizer, desde já, que podendo parecer pertinente, por parte de quem a faz, para mim a pergunta é absolutamente irrelevante. Por não fazer sentido. Entendo eu, no meu fraco e modesto entender, que a questão que deve ser colocada é para saber como fazer e que mecanismos desenvolver para reduzir e eliminar este tipo de financiamentos. Estes financiamentos para áreas tão sensíveis como são as eleições. Em última análise, o que podemos e devemos fazer, em conjunto, para termos em conjunto, como Moçambique, fundos para realizar eleições moçambicanas fiscalizadas por estrangeiros de acordos com a legislação moçambicana. Creio eu, mas posso estar errado, que este derrotismo, esta falta de visão de futuro, esta falta de nacionalismo e esta falta de sentir que se deve e pode fazer diferente ou diverso é, em si, um aceitar antecipado da derrota. É, em última análise, aquilo a que os eurocentristas chamaram e continuam a chamar de afro-pessimismo. Que em última análise, nada mais é do que uma nova forma de colonialismo. Pois, e para terminar, dizer o que já disse, reafirmar o que pode não ser necessário reafirmar. Então, por outras ou por palavras diferentes, desejar a todos uma boa viagem.