quarta-feira, março 28, 2007

até é fácil criar partidos

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Fevereiro 25, 2007


antes e depois

Luís David

A campanha eleitoral, que antecedeu as últimas eleições presidenciais e parlamentares, parece ter deixado claro um aspecto: Que são poucos, que são em número reduzido, os partidos com implantação nacional. Na verdade, dos três partidos considerados como principais, apenas dois conseguiram eleger deputados ao Parlamento. Quanto aos restantes, em termos de contacto com o eleitorado fizeram-no, apenas, de forma episódica. Em número reduzido de locais e perante reduzido número de apoiantes ou de seguidores dos princípios que dizem defender. Alguns dos partidos que não conseguiram eleger nenhum deputado, acabaram por juntar-se ao segundo partido mais votado. Outros, que se auto-definem como extra-parlamentares, criarem e uniram-se naquilo a que chamam de oposição construtiva. A avaliar pelas declarações públicas dos responsáveis de uns e de outros, no fundamental, cada um e todos esses partidos defendem ideias e princípios semelhantes. Parece não haver grande diferença entre os princípios programáticos da posição e da oposição. Na generalidade. O que pode querer significar, em última análise, que não há motivo para a existência de um tão alargado número de partido. Nem espaço de manobra para muitos deles. O que não impede, por óbvio que é e por a Lei o permitir, que novos partidos possam ser criados.


Ora, porque assim é, porque a Lei o permite, porque a cada cidadão nacional assiste o direito de criar o seu partido, Moçambique conta, desde quinta-feira última, com mais um partido político. Que defende, ao que parece, os princípios que a maioria dos partidos há muito existentes também defende. Ainda antes da apresentação pública da nova formação política, já o sei líder (“Notícias” de 21.02.07) avisava que não está preocupado em concorrer à Ponta Vermelha, mas sim, combater os males que enfermam a sociedade e proporcionar o bem-estar ao povo. Este antigo oficial das Forças Armadas de Moçambique, mais disse, na mesma ocasião, ter decidido criar o partido no quadro da liberdade consagrada na lei fundamental do país, como força alternativa face aos problemas actuais que afligem a sociedade moçambicana, o principal dos quais a pobreza absoluta. E, como no seu entender, quem combate a pobreza absoluta é a oposição, logo no dia seguinte, em conferência de Imprensa (“Notícias” de 22.03.07), fez questão de manifestar o seu desejo de se coligar com esta. Isto é, partido nascido hoje, ainda sem ter desenvolvido qualquer actividade política, muito por hipótese sem membros, para além dos fundadores, já manifesta o desejo, o anseio, de se coligar. A razão é simples e parece razoável. O novel líder, ele próprio, a explica. È que já na disponibilidade tentou pedir um empréstimo a uma determinada instituição bancária mas lhe foi recusado , o que, acrescido a outros males, lhe provocou revolta. Ora, o que parece poder concluir-se é que, perante a recusa de empréstimo bancário ao cidadão, só resta a este, ao cidadão, criar um partido político. A lei o permite. A partir daí, pela lógica que estamos a seguir, o cidadão deixa de ser cidadão, deixa de ser cidadão comum, e passa a ser político. Nesta nova realidade, nesta nova qualidade, o político deixa de ser um ser individual e assume-se como colectivo, como plural. E, assim, sendo o partido tão ou mais pobre e carente do que o seu fundador, já este pode, já o político pode vir a público pedir apoio. E pede, nos seguintes termos: Pedimos qualquer apoio possível que garante a realização das nossas actividades políticas. Temos falta de computadores, cadeiras, estantes para arquivo e bandeiras. Fazemos este pedido a todos aqueles que amam e querem que a democracia continue em prol dos interesses de todos os moçambicanos. Ora, o discurso começa na necessidade do combate à pobreza absoluta, passa pela revolta causada pelo empréstimo bancário negado e termina na defesa da democracia. Ter ideias, ter ideias novas, ideias brilhantes, dá nisto. Dá em criar partidos. De resto, até é fácil criar partidos.