domingo, agosto 16, 2009

o famoso pai da democracia

Passam algumas semanas que escrevi sobre um livro. Cujo autor se considera e se afirma fundador da Resistência Nacional Moçambicana. Titulei que “A democracia começa a ter muitos pais”. Mas, ao que parece, tratou-se, apenas, de mera convicção. Não de verdade. Nem de um fim de história. Menos, ainda do Fim da História. É que, depois, agora, na última semana, o semanário “Magazine” trás factos que parece serem novos. Ao fazer-se eco de uma entrevista concedida ao escritor Fabrício Sabate e publicada no seu livro “Memórias Soltas”. Uma entrevista concedida por quem se considera o autor do primeiro tiro que marcou o início da guerra dos 16 anos. E que confirma o que desde há muito se sabe e que outros já disseram e escreveram. Isto é, que “A Renamo foi criada por rodesianos, boers e portugueses (...)”. Quer dizer, a Renamo não tinha então, como não tem hoje, qualquer projecto político. Nem de governação. Foi um instrumento ao serviço de racistas e de fascistas de três países. Uma máquina de destruição e de morte do que e dos que alegava querer governar e defender.

A determinado passo da longa entrevista, o entrevistado diz: A Rodésia aproveitou-se dos descontentes moçambicanos e apoiou-os militarmente. A Renamo não foi, de imediato, ideia de moçambicanos. A Renamo foi criada por rodesianos bóers e portugueses saídos de Moçambique. Eu digo isso com categoria e legitimidade, pois quem deu o primeiro tiro na Renamo fui eu. Fui eu, sim. Não posso negar que nós fomos usados. (...). Noutro passo da longa entrevista, e para que não restem dúvidas sobre origens, o entrevistado esclarece: (...) Mas todos os que são sérios sabem que eu fui o primeiro comandante da Renamo, muito antes desta força ter nome ou objectivos exactos. Fui o primeiro moçambicano negro formado e informado para atacar Moçambique. (...). A uma pergunta se para liderar a Renamo, Dhlakama foi eleito o entrevistado respondeu que quem devia ter substituído André, era o Lucas Muchanga, que era o vice-presidente. Ele era inteligente e falava bem português e inglês, além de que era de confiança e tinha o apoio dos rodesianos. Dhlakama procurou o homem, encontrou-o em Sitatonga, metralhou-o, e, logo a seguir, proclamou-se Presidente da Renamo, até hoje. Pelos vistos quer morrer presidente. Ele é um obcecado pelo Poder. O entrevistado, fornece, com detalhes, sobre a forma como foram mortos, a lista de alguns dos comandantes que a Renamo produziu e cuja maioria foi fuzilada pelo famoso pai da democracia, quer dentro quer fora do território moçambicano. Pelo famoso pai da democracia. A afirmação não é minha, mas estou inteiramente de acordo. Por mais que não seja, por considerar que é uma frase de belo efeito. Mais político que literário. Se, assim, se concordarmos, em vez de se repetir que a democracia começa a ter demasiados pais pode titular-se diferente. Ou seja, que assim parece que bem o merece o famoso pai da democracia.