Vivemos numa sociedade por demais violenta. Vivemos numa sociedade onde existe crime organizado. Vivemos numa sociedade onde se morre a soldo de criminosos pagos para matar. Onde, ao que tudo indica, existem criminosos profissionais. Pessoas que vivem, única e exclusivamente, de e para matar. Será, apenas, um questão de preço. Mas, vivemos, igualmente, numa sociedade onde a violência verbal é um facto. Onde a ameaça é uma realidade. Chegámos já ao ponto, extremo, de dar espaço jornalístico ao bandido, ao criminoso. Como se de pessoa de bem se trata-se. Para, imagine-se, atacar, ameaçar a Polícia. Como corporação. Não um simples agente. A Polícia. Uma Polícia que tem por missão garantir a ordem e a segurança públicas. Se desempenha bem ou mal a sua missão, é um segundo aspecto. Que não pode nem deve ser descurado. Muito menos ignorado. Agora, quando lemos em letra de imprensa ameaças de um cidadão, tido como criminoso, à Polícia, cremos poder concluir que estamos perante algo de errado. Que estamos, no mínimo, perante uma inversão ou uma crise de valores. Que se revela e que se manifesta perante uma total falta de ética e de deontologia. Gostemos ou não da comparação, ela deve ser feita. Com toda a clareza. E a comparação é que se o Estado está criminalizado e cativo do crime organizado, haverá jornais e jornalistas que caminham pelo mesmo terreno. Calmamente. Alegre e com plena consciência do papel que estão a desempenhar. Mas, e isso é que preocupa, impunemente.
Pagar para permanecer vivo e pagar para matar. Pagar para ignorar o crime ou para não investigar o crime. Trata-se de realidades que existem. Que podem existir. Talvez em paralelo. E com maior frequência do que se possa pensar. E que existem, que podem existir, na sociedade em que vivemos. No primeiro caso, poderemos estar perante uma nebulosa. Logo nada se vê nem pode ser visto. No segundo, surgem, de quando em vez, alguns aspectos visíveis. A olho nu. O último terá sido um assassinato. Pouco depois das vinte horas do último sábado. Em plena Avenida Mao Tse Tung. Com recurso a armas de fogo. E à emboscada da viatura em que seguir a vítima. A local, publicada pelo jornal “Notícias”, (edição de 19.01.09, pag. 23), é por demais lacónica. Limita-se à habitual informação da Polícia. E, como parece ser normal, para não criar conflitos nem crispação, termina com uma frase estereotipada: Diligências decorrem com vista à captura da “gang”. Quanto ao móbil do crime, nenhuma hipótese é colocada. Nenhuma hipótese foi adiantada. Quando assim, este será mais um crime esquecido. Um crime para esquecer. Um assassinato sem assassino. Dito por outras palavras, há certas mortes que vale mais esquecer do que investigar.
domingo, janeiro 25, 2009
domingo, janeiro 04, 2009
estes são apenas alguns desejos
Estamos já em 2009. Embora escreva, ainda, nas últimas horas de 2008. No último dia do chamado ano velho. Ocasião em que jornalistas e jornais elegem e divulgam o que, para si, foram as melhores e as piores figuras do ano. Do ano que chegou ao fim. Trata-se, naturalmente, de um rito, de um ritual. Que pouco ou nada terá de objectivo. Trata-se de pontos de vista pessoais ou colectivos. Resultantes de votações realizadas nas redacções. Logo, sem qualquer rigor sem que tal signifique ausência de democracia. Sem outro rigor que não seja aquele que pode ser atribuído a uma votação. Com ou sem regras estabelecidas. Acresce que este eleger de pessoas, pela positiva e pela negativa, parece deixar de fora aquilo o que se apresenta como essencial. De mais profundo. Ou seja, as ideias. Discutimos muito pessoas. Discutimos muito em termos de bom e de mau. Mas deixamos por fora, deixamos de parte as ideias de cada um. E, isto parece ser, agora, repetição do que se fez ao longo do ano. Talvez por tanto ou por tal nos quedamos, tantas das vezes, na ausência de crítica. Na falta de crítica a ideias e a políticas. De forma argumentativa. Criativa. Confrontando ideias com ideias. Num exercício didáctico e que se pretende salutar. E, impulsionador da consolidação da democracia.
Parece entroncar no mesmo ritualismo, na mesma ritualidade, a manifestação dos desejos que se querem ver materializados no ano que começa. No chamado ano novo. No caso concreto, no ano de 2009. Quando assim, havemos de dizer que, em princípio, o desejo primeiro é o de que se concretize o tudo de bom que o não foi no ano que findou. Tanto no plano pessoal como no colectivo. Nacional. Se assim, parece imporem-se duas sugestões para 2009. A primeira, é a de que se aprofunde o conceito e a materialização da Revolução Verde. Em paralelo com o aperfeiçoamento da aplicação e do controlo do Fundo para Iniciativas Locais. Popularmente conhecido por Sete Milhões. Depois, sem que tenha de ser em segundo plano, vem o combate à corrupção. A todos os níveis. O que já ficou demonstrado ser possível. Basta que, para tanto, haja vontade. Sobretudo vontade política. Sabe-se, todos o sabemos, não se trata de uma missão fácil. Mas, também, que não é uma missão impossível. Como se sabe ser uma missão que irá exigir muita coragem. E, talvez, até, o preço a pagar sejam mais algumas vidas. Estando a elaborar, como estamos, no campo dos desejos, estes são apenas alguns desejos.
Parece entroncar no mesmo ritualismo, na mesma ritualidade, a manifestação dos desejos que se querem ver materializados no ano que começa. No chamado ano novo. No caso concreto, no ano de 2009. Quando assim, havemos de dizer que, em princípio, o desejo primeiro é o de que se concretize o tudo de bom que o não foi no ano que findou. Tanto no plano pessoal como no colectivo. Nacional. Se assim, parece imporem-se duas sugestões para 2009. A primeira, é a de que se aprofunde o conceito e a materialização da Revolução Verde. Em paralelo com o aperfeiçoamento da aplicação e do controlo do Fundo para Iniciativas Locais. Popularmente conhecido por Sete Milhões. Depois, sem que tenha de ser em segundo plano, vem o combate à corrupção. A todos os níveis. O que já ficou demonstrado ser possível. Basta que, para tanto, haja vontade. Sobretudo vontade política. Sabe-se, todos o sabemos, não se trata de uma missão fácil. Mas, também, que não é uma missão impossível. Como se sabe ser uma missão que irá exigir muita coragem. E, talvez, até, o preço a pagar sejam mais algumas vidas. Estando a elaborar, como estamos, no campo dos desejos, estes são apenas alguns desejos.
domingo, dezembro 21, 2008
o discurso político de 2008 não terá qualquer significado em 2009
Desde há poucos dias, desde há poucas dezenas de horas, que estamos em 2009. Dizer que o ano que terminou não foi ano bom ou que foi um ano mau. Poderá não ser correcto, não corresponder a nada. De facto, persistiram guerras, fome, atrocidades, massacres. O preço do petróleo, que era previsto fixar-se nos cem dólares por barril, ultrapassou em muito este valor. Atingiu os cerca de 150. Depois, baixou e ficou pelos 50. Um valor demasiado baixo, uma valor fictício, tendo em conta as reservas conhecidas. Disponíveis. Em exploração. E, aqui, poderá perguntar-se se é ou não rentável explorar as reservas moçambicanas. Muito provavelmente sim. Ao aumento dos preços do petróleo, foi acrescentada a chamada crise financeira, dita mundial. Devido ao facto de muitos bancos terem entrado em processo de falência. Ou a serem intervencionados pelo pelos. Estados para que tal não acontecesse. Em acumulação, tivemos, também, a chamada crise de alimentos. Mais de um década de políticas agrícolas desastradas ou desastrosas, não poderiam ter produzido outros resultados. Era inevitável que essas políticas produzissem os resultados que produziram. E, aqui, os governos, principalmente os africanos, só podem queixar-se de si mesmos. Pelo facto de não terem assumido políticas outras, mais ousadas e mais consentâneas com as suas realidades. Ao invés de terem assumido políticas e imposições dos doadores. Ao invés de terem papagueado as políticas e os objectivos dos doadores. Que, como o tempo o haverá de demonstrar, não irão eliminar a pobreza. Muito pelo contrário. Irão perpetuar a pobreza. Moçambique é, hoje, disso exemplo. É um caso exemplar. Talvez, paradigmático.
Temos de convir que, talvez não seja fácil fazer balanço do quanto aconteceu em 2008. Melhor, mais fácil, será perspectivar o que desejamos que venha a acontecer em 2009. E, aí, poderemos todos conjugar esforços, unir forças. Primeiro, apoiando aqueles que, publicamente, já vieram manifestar a sua disposição para combater o crime organizado. Segundo, dando todo o apoio às políticas nacionalistas de desenvolvimento do distrito. Terceiro, denunciando todos aqueles, nacionais e estrangeiros, que tentam perpetuar a pobreza apoiando e pressionado a introdução de políticas contrários às realidades nacionais. Moçambicanas. E, aqui, atenção, temos de estar atentos para entender onde começa e onde acaba o discurso para satisfazer o doador. O onde se situa o discurso com sentido nacional. Nacionalista. O que poderá equivaler a dizer que o discurso político 2008 não terá qualquer significado em 2009.
Temos de convir que, talvez não seja fácil fazer balanço do quanto aconteceu em 2008. Melhor, mais fácil, será perspectivar o que desejamos que venha a acontecer em 2009. E, aí, poderemos todos conjugar esforços, unir forças. Primeiro, apoiando aqueles que, publicamente, já vieram manifestar a sua disposição para combater o crime organizado. Segundo, dando todo o apoio às políticas nacionalistas de desenvolvimento do distrito. Terceiro, denunciando todos aqueles, nacionais e estrangeiros, que tentam perpetuar a pobreza apoiando e pressionado a introdução de políticas contrários às realidades nacionais. Moçambicanas. E, aqui, atenção, temos de estar atentos para entender onde começa e onde acaba o discurso para satisfazer o doador. O onde se situa o discurso com sentido nacional. Nacionalista. O que poderá equivaler a dizer que o discurso político 2008 não terá qualquer significado em 2009.
domingo, dezembro 14, 2008
colocam em dúvida se vivemos num estado capturado
Muitas e muitas vezes, ganham direito a letra de Imprensa críticas a telenovelas. Sobretudo de origem brasileira. Mas, nós por cá, internamente, também temos as nossas novelas. Uma delas, conheceu novo capítulo. Novo episódio. Se é novela humorística, se é dramática, se é trágico – cómica, ainda ninguém se atreveu a classificá-la. Mesmo com esta falta, com esta falha, com esta ausência de clarificação e sem sabermos quando iremos assistir ao próximo episódio, ao próximo capítulo, podemos sugerir título para a farsa. Entre os vários e muitos possíveis, aqui ficam algumas ideias: “Anibalzinho feliz e de novo entre nós”, “Sempre igual entre pares”, “Vergonha nacional”. A escolha do título, como se oferece óbvio, fica ao critério de cada leitor. Desde já e com a advertência de que a sua escolha vale nada. É igual a nada. Ao que foi também noticiado, sete agentes da Polícia estão a ser investigados. Sobre como terá saído da cadeia o tal de Aníbal, e mais dois outros reclusos. Todos os três, agora, com direito à exposição das suas fotos em locais públicos. Quer dizer, agentes da Polícia deixaram-nos fugir. Agora, a Polícia pede-nos a nós, cidadãos honestos, pacíficos, pagadores de Impostos ao Estado, ajuda na sua captura. Não de um dos fugitivos. Dos três. Sem sequer explicar e mantendo como mistério o motivo pelo qual todos os três saíram da cadeia no mesmo momento e pelo mesmo processo. Também tem coincidência, no tempo, a detenção de três indiciados no assassinato de Siba-Siba Macuácua. Como coincidência no tempo tem, a liberdade, sob caução de dois dos acusados no chamado “Caso Manhenje”. Muito provavelmente, aquilo que parecem ser coincidências no tempo, serão nada mais do que isso. Serão, apenas coincidências. Mas, convenhamos, apenas assim.
Em “Há mais bicicletas – mas haverá desenvolvimento?”, Joseph Hanlon e Teresa Smart transportam-nos e fazem-nos recuar no tempo. Uma viagem que, sendo um recuo, é, também e essencialmente, um desafio para a compreensão do presente. Do nosso hoje. Escrevem os autores (pag. 235), depois de definirem o que entendem por “estados predadores” e “estados desenvolvimentistas”: Vemos que a Frelimo estava dividida em dois grupos, o “estado predador” e o “estado desenvolvimentista”, segundo estas duas abordagens. Alguns dentro da Frelimo tentaram bloquear a predação dos outros e fazer força por um capitalismo mais benigno, mais social-democrata, com um grau maior de intervenção. E, pouco adiante (pag. 237), acrescentam: Muitos do grupo predador cada vez mais pareciam convencidos de que lhe pertencia uma porção de tudo o que estivesse a acontecer. Era difícil para Moçambicanos ou estrangeiros montarem negócios sem que um membro da elite da Frelimo recebesse uma porção. Em licenças, autorizações e concessões de terra tinha de haver sempre subornos ou participação. Os moçambicanos começaram a “falar de cabritismo”. Já na página seguinte, depois de explicitarem o que consideram Corrupção Administrativa e Captura do Estado, escrevem os autores: Cabritismo pode envolver dois tipos de corrupção. Mas a captura do estado tornou-se cada vez mais evidente nos anos 90. Um aspecto fundamental da captura do Estado, segundo um estudo do Banco Mundial, é a “venda de decisões cíveis e criminais dos tribunais a interesses privados (e) má utilização dos fundos do Banco Central”, que aparecem cada vez mais. O sistema judicial tem sido mantido deliberadamente fraco, de modo a que casos contra a numenclatura sejam deixados no esquecimento. De facto, em concreto e salvo opinião contrária, quando um tal de Aníbal e seus comparsas de crime entra e sai da prisão, colocam em dúvida se vivemos num estado capturado.
Em “Há mais bicicletas – mas haverá desenvolvimento?”, Joseph Hanlon e Teresa Smart transportam-nos e fazem-nos recuar no tempo. Uma viagem que, sendo um recuo, é, também e essencialmente, um desafio para a compreensão do presente. Do nosso hoje. Escrevem os autores (pag. 235), depois de definirem o que entendem por “estados predadores” e “estados desenvolvimentistas”: Vemos que a Frelimo estava dividida em dois grupos, o “estado predador” e o “estado desenvolvimentista”, segundo estas duas abordagens. Alguns dentro da Frelimo tentaram bloquear a predação dos outros e fazer força por um capitalismo mais benigno, mais social-democrata, com um grau maior de intervenção. E, pouco adiante (pag. 237), acrescentam: Muitos do grupo predador cada vez mais pareciam convencidos de que lhe pertencia uma porção de tudo o que estivesse a acontecer. Era difícil para Moçambicanos ou estrangeiros montarem negócios sem que um membro da elite da Frelimo recebesse uma porção. Em licenças, autorizações e concessões de terra tinha de haver sempre subornos ou participação. Os moçambicanos começaram a “falar de cabritismo”. Já na página seguinte, depois de explicitarem o que consideram Corrupção Administrativa e Captura do Estado, escrevem os autores: Cabritismo pode envolver dois tipos de corrupção. Mas a captura do estado tornou-se cada vez mais evidente nos anos 90. Um aspecto fundamental da captura do Estado, segundo um estudo do Banco Mundial, é a “venda de decisões cíveis e criminais dos tribunais a interesses privados (e) má utilização dos fundos do Banco Central”, que aparecem cada vez mais. O sistema judicial tem sido mantido deliberadamente fraco, de modo a que casos contra a numenclatura sejam deixados no esquecimento. De facto, em concreto e salvo opinião contrária, quando um tal de Aníbal e seus comparsas de crime entra e sai da prisão, colocam em dúvida se vivemos num estado capturado.
domingo, dezembro 07, 2008
um direito de soberania
O Conselho de Ministro aprovou, esta semana, um decreto que fixa quotas para a contratação de trabalhadores estrangeiros. Mais precisamente, define a percentagem de trabalhadores estrangeiros permitida em função do número de efectivos totais. A medida, como é fácil de perceber, pretende desencorajar a contratação de estrangeiros e proteger o emprego de nacionais. A medida, em si, é bem vinda. A medida, em si, é correcta. Necessita é de ser aplicada com rigor. E, para atingir os efeitos pretendidos, não pode admitir excepções. Nem desvios de aplicação. É que na edição do mesmo dia do “Notícias” (03.12.08, pag. 27), o matutino escrevia: “Inspector do Trabalho Suspenso em Maputo”. Isto, devido ao seu mau comportamento. A local tinha como origem um comunicado do Ministério do Trabalho. De acordo com o qual o inspector em causa é apontado tanto por colegas como por diversas entidades empregadoras da província de Maputo, como estando a denegrir a imagem da instituição ao se envolver em muitos esquemas ilícitos nas inspecções laborais. Ora, perante este caso, perante esta situação, perante mais esta situação, o problema não está na lei. Não está na legislação existente ou que possa vir a ser aprovada. Por mais elaborada e por mais perfeita que o possa vir a ser. O problema está nos funcionários a quem é confiada a nobre missão de aplicar a Lei. E, sobre esta questão, ao que parece, estaremos todos claros.
Nesta mesma semana (“Magazine”, 03.12.08), ficámos todos a saber que dois cidadãos paquistaneses foram detidos, em Moçambique, com mais de 2.3 milhões de dólares, libras e euros. Na fronteira de Machipanda. Acrescentemos, para melhor entendimento dos factos, quando iam a sair de Moçambique. Quando iam a sair com todo esse dinheiro. Logo, não eram investidores. Que, por aqui, tanto são reclamados. E, publicamente, acarinhados. Acrescente-se que se trata, também, de um dos primeiros casos em que os detidos têm nome. E em que a notícia é fértil em detalhes. Mas em que, como é comum neste tipo de notícias, os detidos nada sabem. Dizem não ser eles os donos do dinheiro. Dizem terem sido, apenas, contratados para transportar o dinheiro. Como dizem não conhecer o nomes dos donos do dinheiro. Comum a outros casos, é facto de terem tentado subornar os agentes que os detiveram. Ao bom estilo da mafia e da camorra napolitana. Digamos, acrescentemos. Não menos surpreendente é a libertação de uma moçambicana, que também tem nome e morada, acusada do tráfico de estrangeiros. No total, eram 18 entre cidadãos de nacionalidade paquistanesa e indiana. Que não se sabe ao que vinham. Nem ao que iam. Ou que ninguém quer revelar com pormenor. Provavelmente, para evitar mortes mais do que certas. Mas que são inevitáveis. Que sempre aconteceram. Quando se entra em jogos políticos e quando e onde quem está no poder tem poder nenhum. Em tese, colocam-se duas questões pertinentes. É, em primeiro, a questão de saber se quem pensa que manda, manda. A segunda, é a questão de se quem manda, efectivamente, manda. Na prática, nem sempre quem pensa que manda, efectivamente, manda. Na prática e na realidade, muitas das vezes, o poder é simples ilusão. E, se assim, ter a ilusão do poder é não ter poder. O poder só é poder quando quem tem poder de exercer o poder sabe exercer o poder. O poder é, em última análise, um direito de soberania.
Nesta mesma semana (“Magazine”, 03.12.08), ficámos todos a saber que dois cidadãos paquistaneses foram detidos, em Moçambique, com mais de 2.3 milhões de dólares, libras e euros. Na fronteira de Machipanda. Acrescentemos, para melhor entendimento dos factos, quando iam a sair de Moçambique. Quando iam a sair com todo esse dinheiro. Logo, não eram investidores. Que, por aqui, tanto são reclamados. E, publicamente, acarinhados. Acrescente-se que se trata, também, de um dos primeiros casos em que os detidos têm nome. E em que a notícia é fértil em detalhes. Mas em que, como é comum neste tipo de notícias, os detidos nada sabem. Dizem não ser eles os donos do dinheiro. Dizem terem sido, apenas, contratados para transportar o dinheiro. Como dizem não conhecer o nomes dos donos do dinheiro. Comum a outros casos, é facto de terem tentado subornar os agentes que os detiveram. Ao bom estilo da mafia e da camorra napolitana. Digamos, acrescentemos. Não menos surpreendente é a libertação de uma moçambicana, que também tem nome e morada, acusada do tráfico de estrangeiros. No total, eram 18 entre cidadãos de nacionalidade paquistanesa e indiana. Que não se sabe ao que vinham. Nem ao que iam. Ou que ninguém quer revelar com pormenor. Provavelmente, para evitar mortes mais do que certas. Mas que são inevitáveis. Que sempre aconteceram. Quando se entra em jogos políticos e quando e onde quem está no poder tem poder nenhum. Em tese, colocam-se duas questões pertinentes. É, em primeiro, a questão de saber se quem pensa que manda, manda. A segunda, é a questão de se quem manda, efectivamente, manda. Na prática, nem sempre quem pensa que manda, efectivamente, manda. Na prática e na realidade, muitas das vezes, o poder é simples ilusão. E, se assim, ter a ilusão do poder é não ter poder. O poder só é poder quando quem tem poder de exercer o poder sabe exercer o poder. O poder é, em última análise, um direito de soberania.
domingo, novembro 30, 2008
um presente envenenado
Muito provavelmente, a este tempo, já terão sido divulgados os resultados finais das eleições autárquicas. Que, podem ter acrescido, que podem ter acrescentado pouco ou nada aos resultados parciais. Que poderão trazer novidade nenhuma em relação ao que vinha sendo conhecido. E, o que era conhecido atribuía a presidência de 42 dos 43 municípios à FRELIMO. As perdas da RENAMO, neste capítulo, parecem motivar algum descontentamento interno. Daí que quadros desta formação política tenham vindo a público defender a realização de um congresso extraordinário. De facto, a este nível de governação, a RENAMO perdeu terreno e perdeu espaço. Governa, hoje, em menos locais. Para se ser claro e objectivo, governa em nenhum local. Não governa nenhum município do país. Aparentemente, estamos perante um fenómeno que contraria a lógica. Porque a lógica seria consolidar posições antigas e conquistar novas. Assim não aconteceu. Mas, certamente, haverá outros aspectos a não perder de vista. Quando e principalmente, no seu íntimo, Afonso Dhlakama, já possa ter assumido que tem um mínimo de possibilidades de vir a ser Presidente da República. Talvez possibilidades nenhumas.
Vista a questão por prisma diferente, fica, neste momento, por saber quem irá ou quem poderá partilhar a vitória pessoal de Daviz Simango na Beira. E, muito claramente, se a vitória de Simango pode significar, em termos de futuro, uma derrota da RENAMO ou uma derrota da FRELIMO. A RENAMO, como a conhecemos hoje e conhecendo a sua génese, parece facilmente integrável. É facilmente dominável pela FRELIMO. Ou por uma certa FRELIMO. Será uma questão de negociação. De estatuto a conceder ao seu líder. Que já percebeu, que já entendeu, que tem hipótese nenhuma de chegar, em tempo algum, a Presidente da República. Por isso, resta-lhe a possibilidade de continuar a negociar para manter o estatuto de líder da oposição. O que já não será mau. E, ao que parece, não irá para além das suas ambições. A vitória de Simango na cidade da Beira, não é, em si, um processo simples. A sua governação vai exigir alianças. Pode vir a motivar a criação de novas formações políticas. Do que parece existirem poucas dúvidas. Por certo, os derrotados Namburete, em Maputo, e Samo Gumo, na Matola, serão potenciais aliados do vencedor na cidade da Beira. Às próximas presidenciais. Se assim, estamos perante um presente envenenado.
Vista a questão por prisma diferente, fica, neste momento, por saber quem irá ou quem poderá partilhar a vitória pessoal de Daviz Simango na Beira. E, muito claramente, se a vitória de Simango pode significar, em termos de futuro, uma derrota da RENAMO ou uma derrota da FRELIMO. A RENAMO, como a conhecemos hoje e conhecendo a sua génese, parece facilmente integrável. É facilmente dominável pela FRELIMO. Ou por uma certa FRELIMO. Será uma questão de negociação. De estatuto a conceder ao seu líder. Que já percebeu, que já entendeu, que tem hipótese nenhuma de chegar, em tempo algum, a Presidente da República. Por isso, resta-lhe a possibilidade de continuar a negociar para manter o estatuto de líder da oposição. O que já não será mau. E, ao que parece, não irá para além das suas ambições. A vitória de Simango na cidade da Beira, não é, em si, um processo simples. A sua governação vai exigir alianças. Pode vir a motivar a criação de novas formações políticas. Do que parece existirem poucas dúvidas. Por certo, os derrotados Namburete, em Maputo, e Samo Gumo, na Matola, serão potenciais aliados do vencedor na cidade da Beira. Às próximas presidenciais. Se assim, estamos perante um presente envenenado.
domingo, novembro 16, 2008
que a morte de Makeba inspire Saviano para novos combates
Miriam Makeba morreu aos 76 anos. Morreu perto de Nápoles, na Itália. Morreu de crise cardíaca e após ter cantado. Em missão das Nações Unidas e para chamar a atenção do mundo para uma questão aparentemente simples. A da necessidade de um muito maior empenho no combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas. Ao crime organizado que, naquela região, tem como expoente máximo a Camorra. Ou, se se preferir morreu no decorrer de um concerto em homenagem a Roberto Saviano, autor de “Gomorra”. Que, hoje, vive “oculto e sob protecção policial”. Após a edição deste seu primeiro livro, que já vendeu mais de um milhão de exemplares em Itália. Um livro sobre o qual o “The Guardian” escreveu: “(...), de vez em quando, é preciso parar e relembrar que se trata da vida de uma grande cidade, numa nação rica, na Europa Ocidental; em membro fundador da UE; um país cujos negócios se interligam – perigosamente, sugere Saviano – com os nossos.
Roberto Saviano nasceu em 1979 em Nápoles, onde vivia a trabalhava até que, em Setembro de 2006, o êxito do livro, que cita nomes e lugares, o obrigou a viver oculto e sob protecção policial permanente. “Gomorra”, foi editado em língua portuguesa, com data de Janeiro de 2008, pelas Edições Asa II. Trata-se de um trabalho de jornalismo de investigação. Ou, se assim se preferir, de uma viagem ao mundo dos negócios e do crime da Camorra. Onde impera o “trabalho infantil”, tema que irá merecer abordem em próxima edição. Dizer que, após mencionar o número de mortos, ano por ano, desde 1979 até 2005, Roberto Saviano escreve: Três mil e seiscentos mortos desde que nasci. A camorra matou mais do que a máfia siciliana, mais do que ‘ndrangheta’, mais do que a máfia russa, mais do que as famílias albanesas, mais do que a soma dos mortos feitos pela ETA em Espanha e pelo IRA na Irlanda, mais do que as Brigadas Vermelhas, do que os NAR e mais do que todas as vítimas do Estado ocorridas em Itália. A camorra matou mais do que todos. E, logo a seguir, para que não percamos de vista o local a que se refere, acrescenta: Aqui é o coração da Europa. Aqui se forja a maior parte da economia da nação. Quais são as suas estratégias de acção, pouco importa. O que é necessário é que a carne para canhão permaneça atolada nas periferias, rebentada nos emaranhados de cimento e lixo, nas fábricas clandestinas e nos armazéns de coca. E que ninguém faça sinal, que tudo pareça uma guerra de bandos, uma guerra de maltrapilhos. Já na página seguinte (147), o autor de “Gomorra” escreve: A matança de Secondigliano atrai a atenção que faltava pelas dinâmicas da camorra há vinte anos. No norte de Nápoles a guerra mata em pouco tempo, respeita os critérios jornalísticos da crónica, em pouco mais de um mês acumula dezenas e dezenas de vítimas. Parece feita de propósito para dar um morto a cada enviado. O sucesso para todos. Foi, sem dúvida, para chamar a atenção do mundo sobre como se desenvolve o crime organizado naquela região de Itália que Makeba aceitou participar num concerto em Nápoles. Dizer que morreu como sempre soube viver, é nada. Dizer que morreu a lutar contra injustiças sociais, é pouco. Mas, talvez seja justo considerar imperativo que a morte de Makeba inspire Saviano para novos combates.
Roberto Saviano nasceu em 1979 em Nápoles, onde vivia a trabalhava até que, em Setembro de 2006, o êxito do livro, que cita nomes e lugares, o obrigou a viver oculto e sob protecção policial permanente. “Gomorra”, foi editado em língua portuguesa, com data de Janeiro de 2008, pelas Edições Asa II. Trata-se de um trabalho de jornalismo de investigação. Ou, se assim se preferir, de uma viagem ao mundo dos negócios e do crime da Camorra. Onde impera o “trabalho infantil”, tema que irá merecer abordem em próxima edição. Dizer que, após mencionar o número de mortos, ano por ano, desde 1979 até 2005, Roberto Saviano escreve: Três mil e seiscentos mortos desde que nasci. A camorra matou mais do que a máfia siciliana, mais do que ‘ndrangheta’, mais do que a máfia russa, mais do que as famílias albanesas, mais do que a soma dos mortos feitos pela ETA em Espanha e pelo IRA na Irlanda, mais do que as Brigadas Vermelhas, do que os NAR e mais do que todas as vítimas do Estado ocorridas em Itália. A camorra matou mais do que todos. E, logo a seguir, para que não percamos de vista o local a que se refere, acrescenta: Aqui é o coração da Europa. Aqui se forja a maior parte da economia da nação. Quais são as suas estratégias de acção, pouco importa. O que é necessário é que a carne para canhão permaneça atolada nas periferias, rebentada nos emaranhados de cimento e lixo, nas fábricas clandestinas e nos armazéns de coca. E que ninguém faça sinal, que tudo pareça uma guerra de bandos, uma guerra de maltrapilhos. Já na página seguinte (147), o autor de “Gomorra” escreve: A matança de Secondigliano atrai a atenção que faltava pelas dinâmicas da camorra há vinte anos. No norte de Nápoles a guerra mata em pouco tempo, respeita os critérios jornalísticos da crónica, em pouco mais de um mês acumula dezenas e dezenas de vítimas. Parece feita de propósito para dar um morto a cada enviado. O sucesso para todos. Foi, sem dúvida, para chamar a atenção do mundo sobre como se desenvolve o crime organizado naquela região de Itália que Makeba aceitou participar num concerto em Nápoles. Dizer que morreu como sempre soube viver, é nada. Dizer que morreu a lutar contra injustiças sociais, é pouco. Mas, talvez seja justo considerar imperativo que a morte de Makeba inspire Saviano para novos combates.
domingo, novembro 09, 2008
não passavam de farinha do mesmo saco
A campanha eleitoral para as Autárquicas do próximo dia 19, está em marcha. Os concorrentes à presidência dos 43 municípios já se fizeram à rua. Isto é, iniciaram as suas campanhas de propaganda eleitoral. Pelos discursos ouvidos nos dois primeiros dias, não existe matéria para qualquer tipo de avaliação. Para fazer uma avaliação. Para que se possa dizer onde e se há só promessas realizáveis. Ou se, pela inversa, também há promessas eleitorais que os candidatos sabem, de antemão, não poder nunca vir a cumprir. De registar, de salientar, o facto de o primeiro dia de campanha ter sido calmo. Pese o facto de uns poucos incidentes, isolados e localizados, entre simpatizantes de partidos concorrentes adversários. Neste contexto, resta desejar que este tipo de incidentes tenham sido os primeiros e os únicos. Que não se repitam. Que não tenham sequência e que tenham sido, apenas, precedente. De resto, a violência, o confronto físico não levam a local nenhum. Não podem resolver problema nenhum. E, se há ou quando houver violação da Lei, existe apenas uma solução. Só existe uma solução legal e civilizada. A do recurso às autoridades competentes.
Já no interior da RENAMO, surgem discursos diferentes. Bem diferenciados. Discursos, aparentemente, antagónicos. O que também não admira. Por não ser a primeira vez que tal acontece. De um lado, está o discurso belicoso e incitando à violência primária. Ameaçador. Do outro lado, ouve-se um discurso conciliatório, pacifista, legalista. Um discurso que, no mínimo, aponta para a aceitação do veredicto final do Tribunal Administrativo. Isto, depois de a Comissão Nacional de Eleições ter confirmado a exclusão de três candidatos deste partido. À presidências de outros tantos municípios. Devido à apresentação de documentação irregular. Ameaçar boicotar as eleições caso os referidos candidatos sejam, definitivamente, excluídos, não leva a lado nenhum. Revela, isso sim, uma total falta de cultura política. E um elevado défice democrático. A menos que estejamos perante uma nova estratégia eleitoral. Ou uma farsa. Com o objectivo de criar, única e exclusivamente, factos políticos. Em que possa haver uma divisão de tarefas. Segundo a qual, a um cabe a tarefa de desempenhar o papel de mau. Para o outro, fica a tarefa de desempenhar o papel de bom. Se assim, o método não contem qualquer inovação. Não constitui novidade. Possa não ter sido inventado pela polícia política colonial, foi por ela muito utilizada nos interrogatórios dos presos políticos. Uma vezes, eram interrogados pelo polícia mau. Noutras ocasiões, pelo polícia bom. Na verdade e em definitivo, não passavam de farinha do mesmo saco.
Já no interior da RENAMO, surgem discursos diferentes. Bem diferenciados. Discursos, aparentemente, antagónicos. O que também não admira. Por não ser a primeira vez que tal acontece. De um lado, está o discurso belicoso e incitando à violência primária. Ameaçador. Do outro lado, ouve-se um discurso conciliatório, pacifista, legalista. Um discurso que, no mínimo, aponta para a aceitação do veredicto final do Tribunal Administrativo. Isto, depois de a Comissão Nacional de Eleições ter confirmado a exclusão de três candidatos deste partido. À presidências de outros tantos municípios. Devido à apresentação de documentação irregular. Ameaçar boicotar as eleições caso os referidos candidatos sejam, definitivamente, excluídos, não leva a lado nenhum. Revela, isso sim, uma total falta de cultura política. E um elevado défice democrático. A menos que estejamos perante uma nova estratégia eleitoral. Ou uma farsa. Com o objectivo de criar, única e exclusivamente, factos políticos. Em que possa haver uma divisão de tarefas. Segundo a qual, a um cabe a tarefa de desempenhar o papel de mau. Para o outro, fica a tarefa de desempenhar o papel de bom. Se assim, o método não contem qualquer inovação. Não constitui novidade. Possa não ter sido inventado pela polícia política colonial, foi por ela muito utilizada nos interrogatórios dos presos políticos. Uma vezes, eram interrogados pelo polícia mau. Noutras ocasiões, pelo polícia bom. Na verdade e em definitivo, não passavam de farinha do mesmo saco.
domingo, novembro 02, 2008
que se pronunciem os donos da verdade
Quando as águas do Nilo saem do leito do rio e inundam as margens, não há motivo para alarmes. Significa que as terras marginais, as terras adjacentes, ficam, naturalmente, fertilizadas. Significa época ou ano de cultura fértil. Abundante. Os homens não podem, não têm meios nem técnica nem poderes para evitar que as águas do Nilo saiam do seu leito normal. Habitual. Mas, em termos agrícolas, em termos de agricultura indígena, sabem como tirar o máximo de benefícios, o máximo de rendimento nas terras cobertas por muitas toneladas de lama. A lama, transportada para as margens pelas águas da inundação, é como que um benefício dos céus. Nós, por cá, parece não termos, fenómenos semelhantes. Nem cultura assim. Nós por cá, temos queimadas. Tema de muita falácia em tempos recentes. Modernamente, chamam de queimadas descontroladas às queimadas feitas pelos nativos. Pelos indígenas. Muito provavelmente, trata-se de um termo sugerido por uma qualquer ONG. Para não dizer imposto. Quer-se dizer, um eufemismo. Ora, digamos, com toda a propriedade, as queimadas, em si mesmas, não são um mal. E, constituem um factor importante na fertilização dos solos. As queimadas não começaram a ser feitas em Moçambique. Nem começaram a ser feitas ontem. Nem há dez, cinquenta ou cem anos. As queimadas começaram a ser feitas em épocas remotas. Remontam ao tempo em que o homem aprendeu a fazer fogo. Aqui, estamos a falar em termos de milénios. As nossas queimadas, nacionais, moçambicanas, não são descontroladas desde ontem nem desde de anteontem. Sempre foram descontroladas. Porque, se quisermos ser sérios e honestos, não há processo de controlar uma queimada a partir do momento em que é lançado fogo na mata. O que está a acontecer, parece simples. Elementar. As queimadas ditas descontroladas começaram a afectar interesses estrangeiros instalados. Interesses do capitalismo selvagem. Que nada têm a ver com a defesa da natureza. E, muito menos, das populações locais.
Dois incêndios no edifício do Ministério da Agricultura e um em serviços dependentes do Ministério das Finanças, em curto espaço de tempo, justificam alguma reflexão. Deveria. E uma reflexão séria e honesta. Mais do que uma reflexão, uma investigação. Que vá para além do que é óbvio e por todos sabido. Da esfarrapada desculpa da falta de meios para combater o fogo. A questão de fundo, nos casos em apreço, não é se existiam ou não existiam meios para combater o fogo. A questão de fundo não está em saber se os edifícios têm ou não escadas exteriores. Todos sabemos que não têm. E, não têm, aqui, como o não têm em nenhum outro país do mundo. Por tal não ser obrigatório. Em nenhum país se obriga a existência de uma escada interior e outra exterior. Sempre e quando exista um elevador. De resto, se o edifício não tinha condições de segurança para albergar um departamento do Estado, deveria ter sido recusado para tal fim. Mas, todas estas questões não passam de questões periféricas. Secundárias. Em definitivo, o que está em questão é saber se estamos perante simples acidentes, perante incidentes ou perante actos de sabotagem. Se sim ou se não, que se pronunciem os donos da verdade.
Dois incêndios no edifício do Ministério da Agricultura e um em serviços dependentes do Ministério das Finanças, em curto espaço de tempo, justificam alguma reflexão. Deveria. E uma reflexão séria e honesta. Mais do que uma reflexão, uma investigação. Que vá para além do que é óbvio e por todos sabido. Da esfarrapada desculpa da falta de meios para combater o fogo. A questão de fundo, nos casos em apreço, não é se existiam ou não existiam meios para combater o fogo. A questão de fundo não está em saber se os edifícios têm ou não escadas exteriores. Todos sabemos que não têm. E, não têm, aqui, como o não têm em nenhum outro país do mundo. Por tal não ser obrigatório. Em nenhum país se obriga a existência de uma escada interior e outra exterior. Sempre e quando exista um elevador. De resto, se o edifício não tinha condições de segurança para albergar um departamento do Estado, deveria ter sido recusado para tal fim. Mas, todas estas questões não passam de questões periféricas. Secundárias. Em definitivo, o que está em questão é saber se estamos perante simples acidentes, perante incidentes ou perante actos de sabotagem. Se sim ou se não, que se pronunciem os donos da verdade.
domingo, outubro 26, 2008
somos a favor da Revolução Verde
Há, hoje, ao que parece, muitas definições para Revolução Verde. No saber, no conhecer e na simplicidade de Lina Magaia, Revolução Verde é produzir para comer. Guebuza não precisa de dizer como se faz a Revolução Verde. Ela faz-se produzindo (Magazine, 22 do corrente). Para mim, guardo uma visão, talvez, mais académica. Menos prática. Mais teórica. Passa por querer saber como se pode e se deve fazer esse produzir para comer. E se produzir para comer é uma primeira ambição, um primeiro objectivo, se se deve ficar por aí. Se não é necessário produzir para além das necessidades imediatas, básicas, primárias. Se não é preciso produzir excedentes. Se não é preciso produzir para o mercado. E, se para se produzir para o mercado, se torna imperioso ou não que esse mercado exista. Ora, se não existe, tem de ser criado. Logo, em paralelo com o aumento da produção e da produtividade, com a criação de excedentes, não podem ser ignorados os meios e os mecanismos que permitam a troca. O funcionamento do mercado. Mas, convenhamos, a Revolução Verde não é um processo mecânico nem mecanicista. Não se limita à mera produção de produtos agrícolas. Passa pela sua transformação. Passa pela produção animal. Pela abertura e melhoramento das vias de circulação. Pelos meios de circulação. Pela expansão dos meios de comunicação para os centros urbanos rurais. Como o telefone, a rádio, a televisão. Exige, sem dúvida e por último, uma forte intervenção do Estado. Aos mais diversos níveis. A começar pela tentativa de quebrar resistências à mudança. A começar pela tentativa de alteração de hábitos e de costumes, que se verifiquem como entraves ao processo. Que é global.
Nesta semana que terminou, Maputo acolheu mais uma reunião da Via Campesina. Ao que parece a primeira em África. Esta organização foi criada em 1992. Trata-se de um movimento autónomo, pluralista, mas com ligações políticas e económicas. A avaliar pelos pronunciamentos públicos feitos na capital moçambicana, é contra a Revolução Verde. Reprova a Revolução Verde. Ao que parece e pelo que se ouviu, de forma absoluta e radical. Fundamentalista. O que não poderá conduzir a nada de bom nem de positivo. Aconselha o saber feito de experiência que se deve ser mais ponderado. Mais pragmático. Ora, que se seja contra uma revolução verde feita à base de sementes geneticamente modificadas, todos somos. Porque, para além de outras questões, deixa o camponês dependente de novas sementes em cada sementeira. Ou seja, dependente de multinacionais para quem a fome dos camponeses é o objectivo do seu negócio. Mas, atenção. Uma coisa é ser-se contra uma revolução verde feita à base de sementes geneticamente modificadas. Outra, é ser-se contra a Revolução Verde. Nós por cá, nós em Moçambique, somos a favor da Revolução Verde.
Nesta semana que terminou, Maputo acolheu mais uma reunião da Via Campesina. Ao que parece a primeira em África. Esta organização foi criada em 1992. Trata-se de um movimento autónomo, pluralista, mas com ligações políticas e económicas. A avaliar pelos pronunciamentos públicos feitos na capital moçambicana, é contra a Revolução Verde. Reprova a Revolução Verde. Ao que parece e pelo que se ouviu, de forma absoluta e radical. Fundamentalista. O que não poderá conduzir a nada de bom nem de positivo. Aconselha o saber feito de experiência que se deve ser mais ponderado. Mais pragmático. Ora, que se seja contra uma revolução verde feita à base de sementes geneticamente modificadas, todos somos. Porque, para além de outras questões, deixa o camponês dependente de novas sementes em cada sementeira. Ou seja, dependente de multinacionais para quem a fome dos camponeses é o objectivo do seu negócio. Mas, atenção. Uma coisa é ser-se contra uma revolução verde feita à base de sementes geneticamente modificadas. Outra, é ser-se contra a Revolução Verde. Nós por cá, nós em Moçambique, somos a favor da Revolução Verde.
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