quarta-feira, julho 04, 2007

já sabemos quem não é herói nacional

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Julho 1, 2007

antes e depois

Luís David

Desde há bastante tempo que se fez instalar a polémica. Ou, sendo-se mais generoso, digamos, imparcial, a dúvida. Aliás, até é bom e útil e positivo que a dúvida exista. Mesmo quando se trata de saber, de procurar o consenso, possível, sobre quem deve ser considerado como herói nacional. Para tanto, para procurar definição justa e ajustada, para encontrar critério de classificação foi, em tempos, criada uma comissão. Se realizou ou não trabalho de mérito nada se sabe. Ao que parece, nada foi divulgado publicamente. Muito por hipótese, não será fácil nem prático definir e regular por lei, onde começa e onde acaba o acto de patriotismo. Muito recentemente, a polémica foi reacendida. Talvez de forma muito localizada. Talvez de forma provincial ou provinciana. Quando na cidade da Beira foi entendido, como justo e correcto, atribuir nome de André Matsangaíssa a praça local. Que sim, que o faça quem tem poder para o fazer. Mas parece necessário deixar claro, desde já, que desejo e vontade não serão, exactamente, o mesmo que poder. Caso contrário, sempre que se verifique alternância política na governação teremos novas mudanças. Seria a confusão instalada.


Declarações públicas recentes de alguns fundadores da RENAMO, parece tenderem para acalmar a polémica. Reduzir o campo da dúvida. É que se, até aqui, a versão que tínhamos da história era, unicamente, a versão dos vencedores, agora começamos a ter a versão dos vencidos. Primeiro, foi Máximo Dias. Depois, o segundo a vir a público com a sua versão, foi Carlitos Relógio. Ambos se assumem como fundadores da RENAMO. E ambos estão de acordo em que os objectivos do movimento que criaram não era o que lhe foi destinado. Por factores e por forças externas. Diz Carlitos José (“Notícias” de 29.06.07), que quando alguns de nós, incluindo o Doutor Máximo Dias, fundámos a Resistência Nacional de Moçambique, hoje partido Renamo, a ideia foi lutarmos para acabarmos com algumas práticas comunistas como as aldeias comunais, a lei do chamboco, a proibição de praticarmos livremente e religião e outros males que até certo ponto atentavam contra as liberdades mais fundamentais dos cidadãos. E, acrescenta que quando a determinado momento da luta somos confrontados com actuações piores do que as do comunismo, então começamos a interrogarmo-nos sobre a essência da luta que travávamos. Em nenhum momento a RENAMO original tinha como objectivo promover matanças, violações, destruições e sabotagens a alvos vitais para a economia nacional. (...). Colocada a questão nos termos e nos limites das declarações dos dois fundadores da RENAMO, podemos avançar por exclusão de partes. Não sabemos ainda, temos dúvida, sobre quem deve ser considerado herói nacional. Não temos dúvida e sabemos, já sabemos quem não é herói nacional.