domingo, julho 22, 2007

pensar mais com a cabeça e menos com o coração

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Julho 22, 2007

antes e depois

Luís David

Parece não ser passível de desmentido o poder da televisão. O poder e a influência que a televisão exerce e que tem no comportamento dos cidadãos. Ou, se melhor se preferir, as televisões. Tudo quanto seja televisão. É que as televisões levam até nossa casa tudo o que é bom. Mas, cuidado, também levam tudo o que é mau. Sendo que, deixemos, desde já o aviso, nada é bom nem mau em absoluto. Num outro plano, as imagens de televisão, vistas como as vemos, podem ser reais. O que nunca são é totais e, muito menos, objectivas. Elas são, em última análise, produto de decisão de um qualquer sujeito. Logo, naturalmente, subjectivas. Sem mais delongas mas para se poder perceber o poder e a influência das imagens de televisão no nosso comportamento, vale a pena uma breve narrativa. A história é verdadeira e aconteceu passam muitos anos. Aconteceu que uma transportadora de passageiros nacional, operando no sul de Moçambique, era periodicamente, alvo de rasgados elogios em tudo quanto fosse jornal nacional. De um momento para o outro, o elogio deu lugar às críticas mais violentas. Interrogado, certo dia, um dos proprietário da empresa em questão sobre o que se estava a passar, respondeu que, simplesmente nada. Acrescentou que a razão e a culpa dessas críticas era da televisão. De facto, a RTP Internacional havia começado a transmitir para Moçambique. E, as imagens que dava dos autocarros que circulavam em Portugal era outra e diferentes dos autocarros que circulavam nas nossas estradas. Logo, e em, boa lógica, o desejo de ter por cá a qualidade do transporte colectivo de passageiros que existia lá, era “culpa” da televisão.


Escrevia o jornal “Notícias”, na segunda-feira que passou, com grande destaque: Formação de polícias vai triplicar no país. E, acrescentava estar Prevista a abertura de mais duas escolas no centro e norte, bem como a incorporação de desmobilizados das FADM. Ora, naturalmente que sim, naturalmente que perante o avanço da criminalidade, a notícia pretende tranquilizar o cidadão. Só que a formação de polícias não é feita de hoje para amanhã. E, pior, o desenvolvimento da notícia deixa claro que um dos centros de formação precisa ser reabilitado. Logo, precisa de financiamento. Quanto ao segundo, o local para a sua construção está ainda por identificar. Logo, e em boa lógica, a formação de polícias, saídos destes dois hipotéticos centros de formação, será uma questão de anos. De muitos anos. Depois, não deixa de ser útil colocar a questão de saber se a questão de fundo da Polícia é uma questão de números, de efectivos. Ou, pelo invés, de preparação e de especialização. E, até prova em contrário, é. Neste campo, seria de todo útil avaliar os resultados da cooperação com a Espanha. Ou, muito claramente, saber os motivos pelos quais essa cooperação e essa tentativa de formação não deu os resultados previstos. Depois, não perder de vista a rapidez com que a notícia do crime praticado em Maputo chega a todo o país. E, também, a forma como o crime praticado noutros países nos chega a casa. Muito por hipótese, admitir que as televisões podem estar a constituir escola e ensinamento de como praticar o crime. Perante polícias paradas no tempo. Desactualizadas. Desatentas. Hoje, o combate ao crime pede mais do que números. Mais do que efectivos. Pede uma estratégia clara. Indica ser necessário pensar mais com a cabeça e menos com o coração.