domingo, janeiro 28, 2007

são nenhum

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Janeiro 28, 2007


antes e depois

Luís David

Antes e durante todo o período da guerra pela independência, muitos foram os moçambicanos que viveram como exilados. Em diferentes países. De África mas e não só. Por mais ou menos anos. Por períodos mais ou menos longos. Mas, e ao que a história nos mostra, ao que a história nos conta, sempre na perspectiva de alguma forma contribuírem para o alcançar de um objectivo comum. Que era, afinal, a conquista da independência. O 25 de Junho de 1975 alterou esta realidade. Digamos que, em boa verdade, a inverteu. E Moçambique passou a ser de acolhimento. Se assim o preferirmos, de acolhimentos. Muitos. Aqui se acolheram cidadãos de países vizinhos em luta contra os sistemas repressivos e racistas aí implantados. Aqui chegaram e encontraram acolhimento cidadãos de Timor ou do Chile. Após a invasão e ocupação da metade da ilha pela Indonésia, no primeiro caso, fugindo aos carrascos de Pinochet, no segundo. E, para além destes haverá, certamente, muitos mais casos. Muitos mais exemplos de homens e de mulheres que, perseguidos nos seus países por lutarem por uma ordem social mais justa, aqui encontraram espaço para trabalhar e para viver em paz. Esta política de acolhimento para com quantos lutavam por causas justas, este humanitarismo, pode ser entendido como uma retribuição dos moçambicanos ao que outros haviam feito por si, moçambicanos. Quando em luta por uma causa. Pelo reconhecimento do direito a serem moçambicanos.


Em anos já mais recentes, digamos, talvez, na última década, passou Moçambique a ser procurado como local de acolhimento com muito maior frequência. Para um muito maior número de refugiados. Ou, ditos refugiados. Aqui chegaram e aqui foram acolhidos cidadãos de vários países africanos. Especialmente oriundos da chamada região dos Grandes Lagos. Uns, fugidos à guerra e à espera de melhores dias, à espera do fim da guerra, para poderem regressar. Talvez uma pequena minoria. Outros, procurando aqui fixar-se e estabelecer-se, procurando aqui montar e desenvolver negócios. Nem sempre claros, e, aparentemente, sem um mínimo de controlo das autoridades nacionais. Mas, e se parece aceitável que como pagamento de dívida de gratidão, Moçambique aceite e acolha refugiados políticos, há algo que não pode passar sem reparo. Sem alerta e sem crítica. Trata-se da facilidade com que alguns desses chamados refugidos exercem as suas actividades económicas. Onde e como assim o entendem. Quais intocáveis, que conseguem passar desapercebidos a zelosos fiscais e policiais cuja autoridade parece estar limitada a apreender produtos legais a legais vendedores moçambicanos. Só, só e unicamente, pelo facto de o moçambicano estar a vender no passeio. Ridículo. Simplesmente ridículo. É que nesta questão de comércio, temos de saber, temos de perceber, havemos de entender, o que é informal e o que é ilegal. Aqui, e para concluir, dizer, apenas, que não constitui perda de tempo ler, atentamente, o texto “Moçambique repatria quinze paquistaneses”, publicado na última edição do jornal “Zambeze”. Por certo, não será ingénua, no texto, a alusão a lavagem de dinheiro. Assim como não o será a alusão aos “tutsi”. A questão final, o enigma a decifrar, é o de saber os interesses possam existir ou que separam um tutsi de um “saloio”. Possa parecer que não, talvez são nenhum.