domingo, janeiro 28, 2007

que cada macaco ocupe o seu galho

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Janeiro 21, 2007


antes e depois

Luís David

Não caiamos em exageros. Não falemos em termos de país. Falemos em termos de cidade de Maputo, falemos em termos de capital do país. E, aqui, por quanta terra é conhecida por Maputo, são muitas, serão muitos os milhares de pessoas que nos últimos anos foram roubadas, foram assaltadas. Digamos mesmo, como se disse em anos passados e em relação a situação outra, não deve existir família que não tenha tido um dos seus membros vítima de assalto, de roubo. Que não tenha sido, por forma violenta, desapropriado de dinheiro ou de bens comprados com as suas economias. Por hipótese, com recurso a crédito bancário. E, aqui, é bom ter presente, que quando estamos a falar em roubo de bens pessoais estamos a falar não apenas nos bens que se é portador num determinado momento. Como o telefone, o relógio, os brincos, o fio de ouro, o dinheiro em notas ou em cartões de crédito. Estamos, também, a falar de todos os outros desde a viatura aos que se encontram na residência. Como é o caso do rádio, do vídeo, do televisor da geleira da cama e do colchão, quando não da mesa e das cadeiras. Ladrão, é ladrão. O seu trabalho é roubar, Única e exclusivamente roubar. E, a tempo inteiro. Por isso já se aventura roubar no interior de condomínio fechado e com segurança privada. E a assaltar dependências bancárias. Negócio que haverá de morrer como estando em investigação e sendo segredo de justiça.


Mais recentemente, talvez em simultâneo, e sem que se possa falar em roubo ou assalto com recursos a meios violentos (será, mesmo ?), começou a existir entre nós um conjunto de situações anormais. Protagonizadas por empresas que era suposto não ser admitido estarem ligadas a este tipo de práticas. Os casos são mais do que muitos, os exemplos vários, digamos variados. Por hoje, fixemo-nos em três. Detenhamo-nos em três. O primeiro, é o da Empresa Águas de Maputo. Que quando manda factura, manda. Quando não manda, não manda. . O cliente que se lixe. E quando esse cliente quer saber o motivo de uma dívida que julga não ter, é remetido do posto de cobrança à sede. Mas, como a sede é grande, começa no andar de baixo e vai subindo de andar em andar. Finalmente, consegue saber que o valor em dívida resulta de um aumento tarifário. Um aumento de que não foi informado nem recebeu qualquer documento. Antes disso, antes de receber a informação, falaciosa e incongruente, já havia sido a falar baixo. É que falar alto, perante jagunços não é sequer aconselhável. Depois, até pode perturbar as senhoras que se entregam à lúdica actividade de pintar as unhas das mãos. Aqui, como diz o outro, manda quem pode, obedece quem quer. Só que quem não quer, não pode. Outro caso, na mesma perspectiva, também recente, é o da facturação da mCel. Não faltou quem tenha recebido facturas com valores exorbitante. Mesmo quando a despesa mensal seja liquidada por transferência de conta bancária. Digamos, facturas com valores acumulados de muitos milhares de meticais. O que se passou, o que se está a passar, ninguém informa, ninguém esclarece. Se houve erro, também ninguém pede desculpa ao cliente. Então, perante esta atitude arrogante, resta ao cliente uma solução não pagar. Por último, temos a situação da TVCabo. Que não é melhor nem pior. Pretende apenas ser diferente. Arrogantemente diferente. Logo, claro, diferente pela negativa. É que o cliente assina contrato e paga para ter um determinado tipo de canais. Depois, passa a receber outros, em alternativa. Sem aviso, sem qualquer tipo de informação. Mais recentemente, foi a história pateta e saloia da mudança do sistema analógico para digital. Isto é, a imposição de o cliente ter de comprar, de pagar, um serviço que não pediu nem solicitou. Um serviço em relação ao qual não existe qualquer relação contratual entre as duas partes. Mas que importa isso. O cliente que se lixe. Que se cale e que aceite toda a porcaria que lhe é enviada por cabo. Mas, ainda tem pior. A TVCabo decidiu emitir facturas por seis meses a clientes que têm contrato para pagamento trimestral. Como se tudo isto não bastasse, a TVCabo persiste em emitir facturas em dólares norte-americanos. O que sabe, tem obrigação de saber, é ilegal. E, como também tem obrigação de saber, a Constituição assim o determina, qualquer cidadão moçambicano tem o direito de desobedecer a ordem ilegal. De todo em todo, seria útil acabar com estas macacadas. Seria útil eliminar os espaços para estes e estas pretensas híbridas. Ou seja, que cada macaco ocupe o seu galho.