segunda-feira, janeiro 15, 2007

o mistério dos chineses armados

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Janeiro 14, 2007


antes e depois

Luís David

Dois grupos de chineses confrontaram-se, recentemente, na Baixa da cidade de Maputo. Eram, naturalmente, rivais e, ao que tudo indica, ilegais no país. Em consequência da refrega, uma chinesa perdeu a vida. Depois de empurrada contra o vidro de uma montra, cujos estilhaços lhe provocaram golpes a que não resistiu. No cerne do conflito, parece terem estado questões de negócios. Naturalmente menos bem sucedidos para uma das partes, porventura pouco claros ou pouco transparentes. Mas para além de uma morte, provavelmente involuntária, foram disparados tiros. Ao que se diz vários tiros. Ora, até hoje, até há poucos dias atrás, dizia a Polícia continuar à procura das armas. Que, naturalmente como os seus portadores, serão também ilegais. No imediato, logo após o confronto e o tiroteio, a embaixada da China em Maputo deixou clara a sua posição. Demarcou-se da ocorrência. Segundo o que foi tornado público, os referidos chineses não se encontram registados na embaixada. Logo, não é conhecida nem reconhecida a sua existência em Moçambique. O que, sem grande esforço, permite concluir que são ilegais ou, se se preferir, clandestinos. Pelo menos, para as entidades diplomáticas do seu país.


Há, neste episódio, como em vários outros do género, matéria mais do que suficiente para especulação. Há, no mínimo, questões pouco claras e por clarificar. A primeira, é a de saber como entraram em Moçambique e aqui se fixaram os referidos chineses. A segunda, é sobre o tipo de documentos que apresentaram ou que utilizaram para serem autorizados a exercer actividade comercial. A terceira, não última nem de menor importância, donde vieram ou quem lhes forneceu as armas e as balas do tiroteio. Pelo meio, ficam questões aparentemente menores mas que também não estão esclarecidas. Por exemplo, que tipo de negócios faziam e qual a proveniência da mercadoria que comerciavam. E, se essas mercadorias davam ou não entrada legalmente em Moçambique. Ou, qual o nome das suas empresas e se estão ou não registas segundo o preceituado na legislação moçambicana. Também, há quanto tempo esses chineses estão em Moçambique. Acresce a quanto fica dito, não haver sido divulgado se os estabelecimentos em questão se encontram encerrados e se os seus alegados donos estão detidos ou em liberdade. Em última análise, pelos desmandos que praticaram na via pública, quando não por homicídio involuntário. Ao que parece, a nada do que se diz e que se questiona por ser devida informação pública, corresponde segredo de justiça. Ora, não havendo por aqui segredo de justiça que impeça a divulgação da investigação dos factos, há, haverá, certamente algum segredo ou algum mistério. Chamemos, então e à falta de melhor, a esse mistério, o mistério dos chineses armados.